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Num tronco de Iroko vi a Iúna cantar

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Um dos posts que mais referencio aqui no blog fala de Abrobetifzar a educação. A ideia me encantou tanto que, embora não faça parte das minhas raízes étnicas nem da minha formação profissional, eu tenho me sentido uma afrobetizadora no meu trabalho como comunicadora.

Se o assunto lhe interessa também, pessoal ou profissionalmente, deixo aqui uma dica: neste mês o Parque da Água Branca, em São Paulo, oferece um curso gratuito sobre cultura afro-brasileira na escola.

Serão três encontros com especialistas no tema: Heloisa Pires Lima, responsável pela criação do Selo Negro Edições, do Grupo Summus Editorial; Erika Balbino, cineasta e escritora de temas afro-brasileir os; e Kiusam de Oliveira, doutora em Educação, escritora e especialista na temática das relações étnico-raciais.

E amanhã, 21/11, o encontro é sobre A valorização da cultura afro-brasileira e a capoeira, com Erika Balbino.

Este encontro mostrará aos educadores como a capoeira está inserida em vários nichos da sociedade sem que se tenha a verdadeira percepção disso. Por meio de figuras lendárias de religiões de matriz africana, que marcaram profundamente o desenvolvimento da cultura brasileira, inclusive a prática da capoeira e seus instrumentos de percussão, que podem ser usados como atividades em sala de aula como referências. A apresentação também abordará a São Paulo negra.

Erika Balbino nasceu na cidade de São Paulo. Formou-se em Cinema com especialização em Roteiro na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e é pós-graduada em Mídia, Informação e Cultura pelo Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (CELACC) da Universidade de São Paulo (USP).

Além de seu envolvimento na cultura afro-brasileira e na umbanda, joga capoeira há quatorze anos e desenvolve projeto de pesquisa sobre essa prática na capital paulista. Atualmente está à frente da agência Baobá Comunicação, Cultura e Conteúdo.



Seu livro publicado pela Editora Peirópolis, “Num tronco de Iroko vi a Iúna cantar”, foi escolhido pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) para representar o Brasil na feira do livro para crianças de Bolonha e na Bienal do Livro de Paris.

Num tronco de Iroko vi a Iúna cantar narra a história dos irmãos Cosme, Damião e do pequeno e levado Doum, que um dia encontram com um menino chamado Pererê e, por meio dele e de muitos outros amigos que vão se juntar a eles nessa fábula, percorrem caminhos mágicos e descobrem os segredos e artimanhas da arte chamada de capoeira. Com Pererê, a índia Potyra, Vovô Joaquim e outros seres lendários das culturas cabocla, negra e indígena, os três vão ao encontro do grande guerreiro Guariní, ou Ogum Rompe-Mata, capaz de ajudá-los a combater Ariokô e aqueles que fizeram a Mãe-Terra tremer de dor pelo desmatamento.
Erika Balbino revela a força da cultura africana em uma de suas manifestações mais populares ao narrar com maestria o encantamento e o deslumbramento dos protagonistas meninos ao desvendarem os poderes e os mistérios da capoeira, e de como essa prática tem o poder de falar com todas as pessoas. Uma luta, uma dança, um jogo, uma arte.
Ariokô, o ser irracional que os meninos irão combater, deseja usá-la como arma de sua vaidade, que funciona como uma cortina negra não o deixando perceber o poder acolhedor da capoeira, bem como todo o mal que a vaidade dos homens causa a Mãe Terra.
No prefácio, o professor de Jornalismo da USP, coordenador do CELACC (Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação) e membro do NEINB (Núcleo de Pesquisas e Estudos Interdisciplinares sobre o Negro Brasileiro) Dennis de Oliveira, traça uma analogia da invisibilidade da cultura negra com a brincadeira de esconde-esconde, afirmando que é necessário retirar a venda do preconceito dos olhos – que nos impede de ver o outro – para descobrir o que está escondido ao nosso redor.
Segundo a autora, apesar de estar presente em momentos históricos importantes a capoeira tem seu reconhecimento só no papel, assim como várias políticas públicas em favor da cultura afrobrasileira e periférica. “A capoeira foi declarada Patrimônio Cultural do País em 2008, e ainda hoje, está mais presente nas escolas particulares do que nas públicas, exceto naquelas que abrem espaço para programas sociais de final de semana, e nas quais o profissional da capoeira não é remunerado”, afirma.

Combatendo esse paradigma, a publicação introduz uma série de elementos dessa cultura para o público infantojuvenil. “A cultura afro-brasileira ainda é invisível. Seu ensino foi aprovado por lei (Lei 10.639/030 em 2003), mas permanecemos no campo do aprendizado da cultura europeia, replicando valores já tão ultrapassados. Continuamos no campo do folclore, como se o negro e até mesmo o índio fossem objeto de uma vitrine, utilizada para fazer figuração em momentos oportunos. A literatura pode nos libertar dessas amarras e acredito que esta seja minha pequena contribuição”, conclui Erika.
As lindas ilustrações de Alexandre Keto, artista urbano conhecido na periferia de São Paulo, com trabalho reconhecido na França e na Bélgica e educador social no Senegal, são lúdicas e dinâmicas, e harmonizam-se com a linguagem proposta por Erika Balbino, refletindo força e a riqueza do imaginário plural brasileiro.

Encartado na obra há ainda um CD com a narração da história pela própria autora e cantos de capoeira e pontos de Umbanda, com a participação do percussionista Dalua, da cantora Silvia Maria, Rodrigo Sá, além dos Mestres Catitu, Jamaica, e Caranguejo, grandes nomes da cultura popular, esse último tendo exercido a profissão de Mestre de Capoeira por quase 20 anos na Fundação Casa. No final do livro há um glossário contendo todos os termos utilizados no livro que possam ser desconhecidos do público em geral. Além disso, a contra capa do livro conta com um QR Code que pode ser acessado por qualquer smartphone e permite ouvir a todas as músicas do CD.

Apaixonante, “Num tronco de Iroko vi a Iúna cantar” é uma fábula sobre amizade, descoberta e fé, e nos mostra que o conhecimento pode estar muito perto e, no entanto, damos uma volta ao mundo para encontrar o que buscamos. Com outro olhar e sem vendar os olhos, percebemos novos significados em coisas que, desde sempre, estavam ao nosso alcance. Como escreve o escritor e jornalista Nirlando Beirão na apresentação do livro “Erika da uma rasteira no preconceito em prol desta cultura que o Brasil reluta em aceitar investigando, na ginga dos negros, a rica relação entre corpo e música, entre combate e dança, e nos presenteando, com sua arte mandingueira, com uma obra capaz de enfeitiçar gente pequena assim como adulto teimoso”.


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